terça-feira, 23 de novembro de 2010

Tempo

Descansava o anel da tristeza no meu dedo à hora de nada. Era hora de nada, mas o abraço desafogado estava a prender-me o dedo. Não é estranho pesar-me a liberdade, não é morte doer-me coisa nenhuma? Tristeza que és deste anel, nem tu consegues tocar-me agora, a dureza e o frio que tenho são tão distantes. E assim ficas sem entrar, e assim fico sem sonhar.
Tentava eu dormir na dormência quando a luz me cegou. Tirem-na daqui, não há vontade que em mim grite. Quando durmo não sou dormência, quando sonho não sou tortura. E quando não vejo esses olhos tenho apenas morte a viver em mim, tenho apenas este desejo de não respirar. Na hora permanente descansa ainda em mim esta vida. Nenhum sussurro te oferece a solidão.
Descansávamos juntos sem viver quando a luz do dia me cantou que partiste sem mim.

sábado, 16 de outubro de 2010

Esqueci-me

Não são dúvidas que me chamam aqui agora. Pelo menos não minhas, esqueci-as por um instante, esqueci para lembrar. Esperas que a noite seja dela, esperas que toda esta ilusão seja morte anunciada? Este espaço é teu hoje, decididamente teu. Finalmente teu, após todo o medo a noite que sonhou com o teu olhar partiu. No sangue vejo que nada me resta. No sangue que é meu vejo finalmente que não quero correr mais, sei que não quero negar-te agora. E lamento ter a cobardia de te enviar o espelho, e não eu. Sonho poder sentir que quiseste ver para além disso, saber que não fui desejo efémero crava a solidão na minha mão. Ainda lembras este desejo? De que quero deitar a minha mão na tua? Pouco me importa a fraqueza, pouco me importa a repetição.
Assombrei-te na escuridão. A viagem não foi longa afinal, este fado ainda consegue ver-me no horizonte. E se gritei por perdição, porque o afasto agora? Pudesse o tempo morar neste lado do fim e não seria eu o chão perpétuo desta eventualidade. E estás aqui a guardar-me o céu, e estás aqui neste vazio. Consegue o engano sussurrar-te que o acaso não conspirou a sua chegada? Agora que lês estas palavras, toca-te o sentido? Ou é destino que te embala a consciência? O Outono não tardará esta verdade, mas na espera desespero o teu aconchego. Por isso te digo, sem beleza fugaz, que não foi acaso algum que conspirou o engano. Desespera, foi a fraqueza que largaste em mim que te trouxe à memória. A quietude deste quadro não me fará vacilar. Pouco me importa a existência, pouco me importa a dormência. É vida afinal. É isto vida?
Não me assusta o medo que tens nessa praia. Não, não é amor que te obrigo a sentir. Não, não te obrigo a viveres-me. Não há negação que vença este sentir, e ainda que o fumo te ofereça ingénua segurança, não o quero entre nós. Estou aqui, mas não sou aqui. Não temas meu anjo, voarei depressa e em breve serei lembrança. Todo este fogo conhece a morte, e nunca ela perdoou alguém. Estarei longe em breve, poderás ver-me deitar para morrer. Não será essa a verdade, mas será a tua verdade. A ilusão ainda te domina, felizmente nunca serei certeza em ti.
Perdoa-me a chegada, não era em sonhos que queria perder-me. É em ti.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Não sonharás mais

E esta raiva, a quem cabe desesperar no seu encanto? Se tanto sonhei que podias prender-me nessa distância não deve ser encanto algum que te sussurra a morte tão vulgar. Que é minha agora, finalmente minha. Não esperarei que me vejas agora, bem sei que todo o sonho me fez mergulhar na incerteza de um fim repleto de concretização. Mas esta raiva não deixa nem essa ilusão voar na sua gaiola. É o ferro frio que transformo no seu destino, é o sofrimento de uma liberdade adiada que a ela dedico. E a vergonha tarda, talvez para sempre.
Assusta-te a minha redenção? Poder finalmente encontrar-me na plena perdição é tudo agora. É tudo, e o erro que se repete infinitamente não me nega agora. As asas desta maldição batem tão livres agora... O mundo morrerá ao olhar este vermelho, finalmente o destino aos destinados, finalmente a verdade aos crentes de uma ilusão. Sim, podia deixar-vos caminhar mais um pouco, mas tudo isso me aborrece! Chega de passos vazios, chega de caminhos perdidos e de estradas sem fim. Agora, e para sempre, serão tudo o que vos cabe ser.
Tudo está coberto por dentro. Tudo está coberto por mim, apenas o nada poderá beijar este abismo. Se nada fores, tudo o que guardo dentro será teu. Tudo será teu, chegará a ti este destino? Ou é na possibilidade que te perdes, será a sede que te leva o aconchego? É a água que me sussurra a verdade, não passarás esta ponte. Tanto pior meu amor, tanto pior...
Deus, ainda te restam forças para carregar a minha chegada? Nasci de novo, e ainda que o sofrimento da velhice não seja meu desejo, receio ser esse o preço desta nova existência. Treme ancião, treme porque eu cheguei finalmente. E não caberá em lado algum esse arrependimento de me teres criado. Tudo é culpa tua, eu sou culpa tua. Até breve guardião dos céus...

domingo, 10 de outubro de 2010

Nós

Como foi que deixámos o olhar ser mundo tão depressa? Não sonhámos nós que a distância permaneceria imóvel apesar da vontade? Mas se aqui estamos vivemos o que não se vive. Fomos o que nunca foi, e assim continuaremos na preguiça daquele mar que não cantava. Não foi um sonho, e ainda bem. Ainda bem.
Vês agora as correntes que me prendiam antes de brilhares? Sei que não soube dar-me, mas saberás tu que ao falhar pude cair, tão livremente, tão lentamente? E contigo, o que ficou? Eu não, certamente. Eu não, felizmente. Não mergulhes nessa dor, não é o espaço entre nós que me faz sorrir. É antes o tempo entre o que era e o que pude ser para ti, contigo. Pude ser o que sonhaste em mim, ali pude ser tudo. Fui teu, fui a tela onde desenhaste o desejo. E esqueci-me, esqueci-me por ti. E ali, quem estava?
Não serei capaz de decidir se foi caminhando que senti este não sentir, ou se foi antes por não ter de continuar que te guardei tanto. Mas ainda que tenhamos caminhado juntos, o caminho foi nosso e nunca tinha sonhado aquele chão. Sentes como tudo foi a vida para mim, sentes como nada me podia puxar para outro viver?
Houve um momento, um momento infinito em que pude sentir-me nos teus braços. Não tive de segurar-me, não tive de sofrer o vento sozinho. Foste tu que o fizeste por mim, e a ternura que pensei ver em ti nunca tinha sido minha. Consegues sentir o que isso significa? Sem saber o que esperar encontrei-te e fui perdendo a melancolia, fui perdendo o ser ao estar contigo. Ao estarmos os dois soube que a solidão não tem de ser crónica. Mas ainda é.
Foste mais que o desejo, foste mais que a vontade. Em mim foste também a distância, para mim foste também o silêncio onde me consegui ouvir e sonhar. Não estou aí, não posso estar aí. Mas saber que a entrega ficou, saber que o que criaste ficou, não é suficiente? Podemos saber que não sonhámos o mesmo espaço, mas que na distância subimos lado a lado, sorrindo? A memória é tua, a perdição é minha e a verdade nada consegue ver, nada consegue tocar.
Não quero saber o que és, quero poder lembrar o que foste em mim. Não quero que saibas o que sou, espero poder ser o que viste nos meus olhos. Não é a beleza de uma fantasia mais eterna que uma qualquer certeza?

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Eternos, talvez...

Que desilusão nasceu em mim... Tão grande é o desejo que morreu que todas estas dunas perguntam porque vivem. E afinal, porque vivem? E no fim, porque vives se não tens a força de me deitar na areia? Apenas a voz, e de vozes está a minha mente cheia. Tão cheia meu sonho, tão farta e saturada. Deus, como preciso que essa voz morra, como preciso estar em silêncio connosco, ou sentir que caminhas para sempre. Vai, morre para sempre. Ainda sonhas que te sonho? Não meu anjo, esse chão beijou-me permanentemente. E para sempre. E para sempre Destino, talvez para sempre. Talvez...
E agora, porquê? Este silêncio ainda me engana, este silêncio ainda duvida de tudo o que tentei criar. Mas sei agora que pensar apenas me move. E não pudeste tu ver que ser perpétuo é tudo o que me resta? E agora, para onde vamos? Nunca por aí, nenhum caminho me merece. Vai, morre para sempre. Ainda sonho que me sonhas? Sim. Sim meu amor, posso eu cantar como quem grita, posso eu sonhar como quem vive? Poderei eu viver, poderei eu sonhar? Ainda? Ou será esta finitude premonição de uma certeza? Talvez para sempre. Tavez...

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Voas tão alto

Tu foste simplesmente. Eu estava ali, eu estive ali, a olhar-te, a dar-te o meu olhar que tanta compaixão tinha. E tu foste simplesmente, a minha sombra apenas uma sombra, nada mais. Ficou o mar, ficou o frio e a noite, mas tu não. Nem sei se foi abandono que senti, esse céu onde pensas voar nunca pousou em mim. Não vês como voas alto, não vês como tentei tanto esconder esta loucura?
Como posso eu falar-te de abandono? Será que posso sequer falar? Não, não é por duvidar que mergulho aqui, não é por não saber que lentamente me afogo nesta areia. Este branco cega-me, e de onde estou não vejo quem és. Não vejo quem és pois não sei mais o que ser. E o presente, a ele digo adeus, não viverei mais. Não viverei mais aqui, não mais.
Falta-me a lucidez. Resta-me saber se este espinho te impede de caminhar. Não era essa a vontade que tardava em acordar? Ouve-a agora, a ti veio finalmente o desejo, a nós veio finalmente a certeza. Já sei que este quadro não ouve os teus passos, já sei que o tempo morre eternamente nesta moldura. E de que morte pode alguém cantar palavras? De que orgulho vem a derrota, de que vaidade? Talvez deste peito meu anjo, talvez destas trevas que escolheram a solidão por não saberem amar a lâmina que o absurdo movimenta, tão cegamente, tão surdamente. Grita, grita agora, vais rápido de mais para qualquer caminho. Divaga, a vontade acordou.
Sei que este silêncio veio para ficar. E a solidão, terá ela amor para mais uma pedra? A que mundo posso eu tirar a força do vento? Sonhei apenas ser árvore, sonhei apenas não resistir e ser tão flexível como invisível. Podemos agora saber que nem sonhamos em que caixa se mata uma vida. Mas não posso ainda saber se consigo ficar imóvel sem uma qualquer ausência, ainda que pensada. Submissão, serás tu que darás ao meu fado as asas de um corvo?

sábado, 25 de setembro de 2010

Dor(mimos)


Deita a minha mão na tua. Podes dizer-me que sentes o frio que nas costas desta mão desembarcou. E que se deixou ficar, decidindo nunca mais deixar a minha mão dormir. Deita a minha mão na tua, deita-a e decide dobrar a minha dor em dez. Em dez sonhos que não poderei lembrar.
Como é indescritível esta demência em que me adormeces, como é difícil não estranhar este desengano quando a desilusão me devolveu à dália daquele outro tormento. Dás ao meu dia tanto desespero, minha dor não é mais demónio. Minha dor é apenas desengano, descida tão suave como gentil. E a mim, dedicas também o teu ser? Bem sei que me dei cedo de mais, bem sei que carregar este mundo não deve ser teu desejo. Mas é essa força que me leva as lágrimas, é esse aconchego que denuncia esta fraqueza. Desespero-te, pois saber que o desencontro se anuncia deixa-me sem alma. E eu, sem alma, sou ninguém. E eu, sem alma, sou o mundo. Mas o espelho já não está aqui, e não consigo ser nada nesta hora. O relógio já corre, a memória já não desaparece. Deita a minha mão na tua.
Que asas tão negras que passam agora diante de meus olhos. Que escuridão tão veloz que descende agora aos céus. Estará o mundo dormente, ou estarei eu sem água? Não é sede que me adoece, não é sede que pinta o mundo. Parece-me antes que Deus decidiu morrer, não ouvem o seu dedo aninhar-se no gatilho? Voa para longe, não deve ser esse poder a obrigar-te a ficar. Podes partir, podes desistir. Não deixas vergonha nenhuma connosco. Nem fraqueza. Não será esse salto que nos trará desilusão, os olhos que negamos detêm-se há muito no medo, não sofras por isso. Era nosso dever, e tu não falhaste. Teremos sempre a beleza de uma desilusão que não devia ter nascido tão tarde.
Ficámos nós agora. Sim, nós ainda aqui estamos, não é devaneio algum que escreve estas palavras. Não deitarás a minha mão na tua, certamente não é o frio que queres na pele. Mas deixa-me dizer que pouco me importa o abandono. Pouco me move saber que não posso perder-me em ti. Em sonhos estou só, em sonhos estou sempre só, e se desesperei por desejar o teu aconchego foi por saber que me restam sonhos. Apenas sonhos. Obrigado, descobri contigo a dependência, e não mais. Ao amor deixo apenas palavras de desapego: Tira o teu ódio de mim...

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Erro?


E amar o fruto proibido, que melancolia me traz? Se não posso olhar-te, permite pelo menos que te ouça, por favor... Porque ouvir-te será o sonho que na noite me manterá acordado, na escuridão, no eterno.
Diz-me que ouviste a repetição, diz-me isso. Tens a lucidez que te permite a consciência do diamante que nunca de mim brilhou? Não anseio a verdade, esse demónio tão ilusório desistiu de mim há muito. E o orgulho que nesse instante conheceu a noite, a ele renuncio, desejando apenas que me lembres como uma estrela que brilha mais que uma mera criatura. Reside em ti a capacidade de me olhar como humano? Vês como me tornas mundano, mundano nesta tão ilusória ausência de lucidez? Bem sei que não te sonho como mereces minha Deusa, mas se puderes libertar-me prometo amar-te. Mas não como o amor se veste na vulgaridade daquele mundo. Apenas como o amor se veste no requinte dos sonhos de alguém. Alguém que não eu eu certamente, este ego não te merece. Ou conquistará ele a tua solidão?
Não consigo encontrar um trilho nesta maratona que não esteja já usado. E ainda assim, de toda a terra que já digeri, sou obrigado a deitar tudo ao chão. Sim, todo o nada vai embora com este amor, este amor que não é real. Mas aspiras tu à realidade? Há muito que me encontro longe dessa virgem. É com infinita arrogâcina que apenas em sonhos posso pensar que sou assombrado pelo mito da realidade. Tira-me daqui por favor, Não me leves a esse monstro. E agora, esperas que termine este "parágrafo" com algo que te leve onde um deserto sofre? Não minha Musa, para ti não reservo sonhos já corrompidos. Para ti apenas este zero, e acredita que esta oferta tem tudo de mim. Tudo de mim, tudo de mim...

segunda-feira, 5 de julho de 2010

De que Céu?



De onde vieste tu? Como invadiste o meu ninho quando a solidão há muito partiu? Apenas sei que estar aqui não é estar, é ser. Não são os nossos lábios que se tocam, mas antes as suas almas que num beijo se confessam sem sentido. E perder o sentido é aceitar-te, não como desejo de morte, mas como ausência de uma finitude caminhante.
Sentes esta alma? Sente-la como eu sinto a tua? Ou a dormência do sonho em que estás cegou a tua pele? Espero apenas que não, a solidão traiu-me e tu estás aqui, estás aqui na minha respiração.
Estar aqui não é estar, é ser. E respirar-te não é viver, mas sim sofrer o beijo que por não chegar me aperta. Me aperta.
Olho a solidão nos olhos, mas não nos olhos que me vêm, e peço-lhe que me deixe sofrer este beijo. Se a solidão me mente, se sou apenas absinto na sua mente, aceitas sofrer? Aceitas-me?
Porque caí eu no chão? Sei voar, estive a voar. O salto era apenas o toque que precisei oferecer ao ar. Mas no final, no final que de mim nasceu, o ar não me chegou. E partir o chão com aquele fardo tão invisível foi o fado que em mim coube. Mas nada em mim doeu. Nada doeu...
Não posso assombrar o anjo do destino. Se ao nascer apenas senti um espelho, não queimaria eu as minhas asas se a mim me afogasse? E que movimento me resta se do outro lado apenas eu me olho, de asas queimadas, sem nenhuma sina?
Que desígnio, que movimento? E porquê movimento? Se me desnudaram a solidão, porque não levam também esse movimento? Perpétuo, eternamente perpétuo é o que desejo ser quando vivo naqueles pesadelos.
E tu, porque estás aqui? Porque estás ainda aqui? Serás tu meu espelho partido, onde o reflexo sou apenas eu, e não reflexo? Deixa-me sofrer o beijo, deixa-me sofrer.
Não me olhes solidão, não me vejas. Ouve apenas as palavras de amor que entre linhas brilham.

Caixa Infinita


É neste espaço pequeno que guardo o mundo. É nesta pequena caixa invisível que te toca, que te ama, que guardo o meu mundo. Aqui mesmo, onde o Nada não se ouve, mas se sente infinito, guardo este pequeno mundo. Neste espaço.
Não, aqui não falarás de tempo, essa morte não cabe nesta caixa, essa morte não abraça o infinito. Não, nesta caixa não te ouvirás, nunca no infinito caberá a dor que nasce, apenas na morte. Ao ser tempo, essa dor não cabe num espaço, não neste espaço.
Porque guardo então esta caixa? Aqui não cabe o tempo, ou a dor, que tão humanos nos fazem. Porque quero então o mundo se nem dor, nem tempo, nem morte, lhe dão cor? Porque sei que esta caixa é infinita. Porque sei que, não sentindo nela consciência abraço a existência, que melancólica nunca nasceu em ilusão.
Não, não é por ser uma caixa que este espaço tem um fim. Não, não é ilusão. O infinito não compreende um tempo sem fim, apenas um espaço sem fim. A vida não morre por não ter onde brincar, morre por não ter mais quando brincar. E não morrerá nunca o parque onde brincou a semente, apenas lhe roubarão o Sol. Assim, mesmo quando o tempo não termina, ele continuará caminhando. E nada será infinito na essência, apenas permanentemente progressivo.
Roubei o tempo ao mundo que neste espaço pequeno guardo. Roubei-o. Agora o mundo é apenas este local, esta caixa, e nada muda, nada caminha. O Nada não morre, não envelhece, nunca.
Entra comigo nesta caixa, vem sentir o que te conto. Anda perder-te neste infinito imutável onde a tristeza ganha estranha tranquilidade. Não, não sairás. Não, não morrerás. Não, não sentirás dor.
Apenas serás infinita.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Tristeza

Não vejo nesta infância tão permanente a contemplação de uma tristeza que sempre se separou da angústia. Nesta tristeza que eu quero que o mundo ame não encontrarão sofrimento, nunca. E a angústia será sempre uma sombra que, para vós, não passará de uma memória.
Adorava ver no mundo esta loucura, loucura de ver que na tristeza bebemos a única eternidade que podemos alcançar. A eternidade de olhar a tristeza, de a deixar seduzir a nossa existênica, de nos deixar-mos embalar por ela, beijando-a também nos momentos secretos, sorrindo...
Esta loucura tão bela, loucura de amar a tristeza, permitiu-me o sorriso que acompanha cada lágrima, levou-me á solidão e á melancolia, é felicidade. A felicidade de sentir no ar que o mundo é tristeza, a felicidade de sentir que na morte encontrarei o absoluto, mergulhando na melancólica certeza de que a felicidade me beijou, eternamente perpétua. E saber que a angústia não me acompanhou, nunca, traz-me o mais triste sorrir, a mais feliz das lágrimas...
Não há angústia no nada, e a tristeza é o nada que me faz sentir tudo, a melancólica felicidade...
Sou sóbrio nesta loucura, só nesta loucura. Apenas com ela consigo viver o silêncio, sentir a despedida de um adeus, desmaiar na morte, sonhar com a morte. E apenas nesta tristeza consigo aceitar a espera em que a morte me mantém, apenas na tristeza posso acalmar o meu desejo de não viver... Só á tristeza dedico o meu viver, só ela me dá esta loucura, esta paz, esta melancolia...
Amem esta loucura, vivam a loucura contemplativa de amar a tristeza e sejam loucamente tristes... Sem angústia, pois um louco não pensa, contempla... Tristemente...

Destroços

E se te disser que quero mesmo morrer? Continuarás a tentar manter-me debaixo do destroços de um amor que nunca foi nosso, mas meu? Não me digas que não, deixa-me , por favor, cantar a tristeza que já não é semente, uma última vez... Deixa-me cantá-la, deixa-me morrê-la, deixa-me... Já te sussurrei que quero mesmo morrer...
Não quero que me mates, já o fizeste ao conquistar o espelho que nunca foi meu irmão, mas sim, sempre, minha sombra... Quero deitar-me, sentir o céu esmagar-me o peito vazio, sentir o mundo queimar-me as costas marcadas, sentir o ar fugir da minha alma angustiada, aterrorizada...
Aqui nesta janela tão brilhante, encontro-te sempre a tirar-me o horizonte. Nesta janela tão brilhantemente perfeita, és apenas o meu horizonte, o horizonte que não quero alcançar, que não quer ser alcançado, nem através de uma lágrima... Deixa-me, por favor deixa-me...
Teremos sempre o sonho, encontrarás conforto no seu peito. E eu serei sempre o eterno espectador que te vê consumir a somra que mora no meu espelho...

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Musa

Na imensidão perpétua do vazio que me consome, do vazio que sou eu também, aguardo silenciosamente a tua chegada. Na imensidão perpétua, no vazio, na ausência, aguardo... Aguardo a tua chegada porque não quero mais fingir que não te amo, não quero mais ser este negro espelho sem humanidade, não quero mais ser a escuridão que ninguém sente, que ninguém vive, que ninguém quer... Quero ser o azul que admiro quando te contemplo, o azul que me inunda os olhos, a alma, que me pinta as lágrimas nos momentos em que o meu triste sorriso recebe com carinho a tua chegada... Quero ver mais uma vez o teu esvoaçante caminhar, quero ver as estrelas deixarem de brilhar com a tua presença... E por isso aguardo, na imensidão perpétua deste vazio que sou eu...
Então sinto o vazio ficar mais pequeno, deixar de ser vazio para ser apenas tristeza, sinto as estrelas deixarem de brilhar, a tua melancólica presença abraça-me lentamente... E oiço uma lágrima crescer na minha alma, uma lágrima que é pintada pelo teu azul... E então deixo me perder, para sempre...
Minha musa, em lágrimas quero amar-te, neste olhar que é teu mergulharei no azul que apenas tu irradias, e para sempre ficarei. Mata o meu pensamento, quero ser apenas sentimento, quero ser apenas movimento, eterno pássaro seguidor de uma vida, da tua vida. Deixa-me admirar-te na eternidade, deixa-me apenas sentir esse azul que não é céu, que não é mar. Esse azul que és tu... Deixa-me ser o teu coração, vamos unir a minha escuridão e o teu azul. Talvez assim consiga deixar de pensar... Talvez assim deixes de deslumbrar aqueles que têm olhos para te sentir. Talvez ao ser teu faça com que sejas só minha... E numa lágrima, numa eterna lágrima azul, direi obrigado...

segunda-feira, 10 de março de 2008

Premonição

"Ele estava deitado no chão, de barriga para baixo, na calçada. Ela permanecia no meio da praça, as ruas em sua volta como um mar, criando aquela ilha. Ela estava quieta, tranquila, imóvel. Parecia não respirar, o seu corp era apenas mais uma pedra a calçada daquela praça. E ele deitado no chão... Chorava, gemia, gritava dentro de si mesmo... Ela era para ele, naquela momento, um vulto apenas. Pois as lágrimas e a rua que era um mar impediam que os seus olhos alcançassem os dela. Mas ele sabia que era ela que o olhava. o vulto que ela era para ele naquele momento, ele conseguia distinguir o seu casaco prego, longo. As suas mãos, sempre brancas, sempre cor de neve, fugiam ao vulto e eram nítidas. Mas não a sua cara... Apenas uma mancha, cor, pele...
Ela continuava na praça, imóvel, quase sem respirar. Olhava para ele e via-o no chão contorcendo-se, gemendo, chorando indefeso e perdido, magoado. E também ela chorava. Mas ele não via as suas lágrimas. Apenas cor, pele...
"Porquê amar assim? Patético amor deixa-o como me deixaste a mim, deixa-o viver, não o mates assim..."
"És ainda a vida dele, assim como a dele foi um dia a tua. Ao deixares-me morrer atiraste a vida dele para o vazio, perdida para sempre no abismo. Nunca eu deixei alguém... Foste tu menina que me mandaste calar, que mandaste cortar as minhas asas... E lentamente fui morrendo para o teu coração. Na minha humildade apenas fiz o que me pediste, deixei que me cortasses as asas com a faca que é o teu medo... Porque menina, eu fui um dia teu, dei-te o poder. Dei-te o direito, ensinei-te a paixão. Mas tu não me quiseste e eu parti..."
"Não quero mais amá-lo. Para não sofrer abandonei-te, cortei as tuas asas. Porque não quero sofrer, aterrorizas-me, és forte demais para a minha alma, não sei o que és...'
"E não sofres agora?" A noite, silêncio...
"Não te quero mais em mim, és um intruso na minha alma, não sei o que fazer contigo." Ouviu-se uma lágrima cortar o ar nesse instante, caindo no chão num estrondo que parecia partir a calçada.
Ele no chão permanecia. Cansado de chorar, de sofrer, desejou morrer. Porque já nao conseguia ver os olhos dela. Apenas as mãos, distantes, intocáveis... E isso não era suficiente...
"Porque não morro? Porquê permanecer aqui, nesta tortura? Deixa-me morrer, deixa-me partir... Corta as minhas asas, quero fugir..."
"Não posso cortar as asas que ainda te fazem voar, não tenho esse poder. Apenas tu podes cortar as minhas, se eu partir serás uma estrela chorando luz para a eternidade."
"Não sei se quero deixar-te partir, tenho medo, não sei o que é o céu sem ti... Ainda fazes o meu coração bater, és tu quem cria estas lágrimas, por ti grito e desespero neste chão, neste gelo..."
"Se queres morrer deixa-me partir. Serás livre, uma estrela."
Ao ouvir tudo aquilo ela mandou aquela voz embora. Queria estar sozinha com ele. Apenas os dois e a noite. O olhar dela dirigiu-se ao dele. Perdido, desorientado não percebeu a diferença. Apenas a dor para ele, apenas a morte. Estava na hora, ele ia partir... Ela aproximou-se dele, atravessou o mar imenso que eram aquelas ruas, lutou como nunca tinha lutado, pegou nas suas mãos e chorou sem razão, por simpatia. Ajoelhou-se e colocou a cabeça dele nas suas pernas. Passando a mão no cabelo dele chorou, a nuvem de dor que nela se concentrar libertou toda a mágoa. E ele sentiu chover, naquilo que ainda era a sua sensibilidade.
Ela abraçou-o com força, choru, o mundo não existia, apenas o vazio, a dor dele, a morte voando nos cés como um abutre...
E lentamente, ele morreu nos braços dela, por fim o silêncio... E ela ficou sozinha na noite, abraçando o corpo dele, frio.
"Perguntaste-me quem sou menina. Sou a tua vida, e fui a dele. Fui a razão, fui o céu onde vocês, anjos, um dia voaram, eternos. Sou a Lua que olhavam quando a solidão vos invadia. Menina, eu sou o amor que por ele sentes, sou a força que te faz viver, sou o monstro. Menina, eu sou tudo pois um dia assim o quiseste.
Tentaste cortar-me as asas, tentaste expulsar-me do teu coração. Mas sei que estou certo quando digo que tudo isso era ilusão... Pois a dor que agora sentes abriu novamente o teu coração, sou para sempre eterno dentro de ti..."
Vazia, ela olhou o céu sem vontade. Apenas por olhar. E no céu encontrou uma estrela cujo brilho era uma lágrima. E a estrela susurrou ao ouvido dela.
"Eu amo-te... Vou iluminar-te para sempre nesta tristeza que é o meu brilho. Serei o teu anjo borboleta, na noite estarei contigo, sempre..."
"Meu anjo eu amo-te... Por favor perdoa-me..."
E desde então, o céu nunca parou de chorar..."

Daniel Guerra
3o-12-2007

domingo, 8 de julho de 2007

O Fim...

Será que me amas agora? Agora que eu voltei, agora que finalmente deixei de lutar, agora que as armas se enferrujaram, agora que tudo acabou, agora que o Sol se pôs, agora que as estrelas me fazem chorar? Será que me amas agora, agora que a Lua me olha com desprezo, agora que já não tenho forcas para bater as asas e voar com a solidão, agora que finalmente tudo o que eu e ela criámos morreu, agora que a chuva já não me conforta, agora que o momento se apoderou de mim, agora que já nao tenho vontade de negar seja o que for, agora que o Sonho foi finalmente destruído, pra sempre, será que me amas? Porque eu finalmente tirei a máscara, porque finalmente consegui tirar esta roupa, e pela primeira vez encontro-me nu, contigo, cara a cara, mostrando-te o meu corpo, a minha alma, as minhas cicatrizes. Porque finalmente consigo olhar para este buraco no meu peito, onde costumava estar algo chamado coração, mas onde agora apenas existe um abismo profundo, escuro, vigiado por larvas e moscas, sedentes por morte, por decomposição. Apesar de já ter desaparecido, consumido pelas larvas do meu pensamento, a alma do meu coração, a Minha Alma, ainda paira neste abismo, nesta sepultura inacabada, e as larvas e as moscas ainda tem fome. Olha bem para este buraco, bem a profundidade do abismo, contempla a ferida que nunca sarou, e depois olha-me nos olhos e observa, e sente a ausência que reside em mim, a saudade que em mim não é mais do que uma memoria, do que uma brisa.
Algures na noite em que adormeci no colo da ternura, a chorar e a soluçar, tive um sonho. Nesse sonho caminhava de noite na praia, apenas mais uma noite, apenas mais uma praia. E nessa praia o mar rebentava com violência, como se algo o atormentasse. E eu sentia-me estranhamente calmo, estranhamente tranquilo. Continuei a caminhar, sentindo a areia e o mar a meus pés, refrescando-me a alma. E de repente, num momento, tudo parou, o mar parou, a noite parou, e eu senti uma presença aproximar-se. E quando me virei vi algo terrível, algo mais maligno do que tudo o que até então havia presenciado: vi-me a mim próprio, escuro, sombrio, sinistro, tétrico. E á medida que ele se aproximava, o meu coração começou a doer. Cada vez mais, cada vez mais, cada vez mais... Até que eu, sombrio, sinistro, estendi a mão esquerda, lentamente, firmemente, na direcção do meu peito, do meu coração. E com o mesmo silencio com que me tinha aproximado, com a mesma frieza, arranquei o meu próprio coração. Senti os dedos a penetrar na pele, senti as costelas a partir, senti aqueles dedos frios tocar-me no coração. Senti as artérias e as veias a chorar, a dizer adeus, a gemer, despedindo-se daquele que tinha sido o seu Deus ate então. E fiquei imóvel, sem expressão, enquanto me via. E vi-me partir, vi-me desaparecer, na noite, na escuridão. Ali fiquei, deitado, sentindo o sangue escorrer pelo peito, lentamente, mas já não sentia dor. Aí vi a Lua olhar-me com desprezo, e vi a ternura sorrir-me, com um sorriso cínico, e vi-a abandonar-me, mergulhando ela também na noite, na escuridão. E sentido o mar rejeitar-me violentamente, comecei a despertar.
Até que acordei, no meio das árvores, deitado no chão. E ao olhar para o lado vi a ternura sorrir-me cinicamente, tal como eu havia sonhado. E por instinto, olhei para o meu peito. Mas não encontrei nada... Nada... A ternura desapareceu, e tal como no sonho a Lua olhou-me com desprezo. E finalmente aceitei o que há tanto tempo tinha esquecido, o que há tanto tempo tinha escondido de todos vós: a Morte do meu coração...
Por instinto caminhei até aqui, até ti. Não sei onde estou, não sei quem és, apenas desejo que olhes para mim, apenas desejo que vejas este abismo, este berço imundo de podridão. Apenas quero que sintas a ausência que transborda dos meus olhos, a saudade que em mim ficou. Porque agora mostro-te mais do que aquilo que já mostrei, porque agora te mostro mais do que o meu coração, agora mostro-te a sua sepultura. E agora pergunto-te o que não me sai da cabeça, o que não me deixa em paz... Amas-me agora?

sábado, 23 de junho de 2007

Ternura

Nesta noite escura e vazia, cansei-me... Cansei-me de estar escondido, cansei-me de ser alguém que nao sou... Nesta noite, pela primeira vez em muitas noites, nao vou conspirar com a tristeza, nao vou partilhar segredos com a melancolia, e nao vou adormecer nos braços do desespero... Hoje peço-te, por favor, ama-me, cuida de mim...
Encontro-me contigo, nesta noite, num lugar mágico, lugar perdido neste mundo distorcido, lugar que deixei quando perdi a inocencia de ser criança. No meio das sombras, no meio da noite, escondida atrás das árvores, vejo-te a ti ternura, vestida de branco... Como és bela, como és pura e eterna... Há muito fugi de ti, há muito abandonei a frescura da tua presença para criar e mergulhar neste Inferno ardente, que me sufoca e me atormenta... Mas hoje cansei-me, hoje fartei-me de ser quem nunca fui... E assim, cansado e esgotado, ferido e magoado, regresso aqui, regresso a ti, e arrependo-me de alguma vez te ter deixado, de te ter rejeitado, de te ter magoado...
Mas tenho medo que nao me aceites, que nao me queiras contigo mais uma vez... E fico parado, no meio da noite, no meio das árvores, a olhar para ti, a tentar perceber se te perdi para sempre, se a ferida que em ti deixei foi profunda de mais... E vejo mais uma vez a tua beleza... Os teus olhos azuis, mais azuis que o céu, mais profundos que o mar, os teus olhos ternos, carinhosos, evanescentes como a própria eternidade... O teu cabelo branco, brilhante, liso, sedoso, reflexo da verdadeira juventude, da inocencia mais pura e mais sincera... Mas nao vejo nenhuma expressao da tua alma, nao sinto a tua presença como antes... E sinto que te perdi para sempre... Mas quando eu penso em desistir, quando começo a conformar-me com o Inferno que criei, tu sorris... Tu sorris e dás-me a certeza de que nao te perdi... Meu deus, que sorriso... Num segundo, num momento, tudo me deixa, o meu coraçao parte as suas proprias correntes e finalmente todo o Inferno foge, e finalmente consigo ser sincero... As Lágrimas enchem-me os olhos, mas pela primeira vez nao choro pela tristeza... Corro em direcçao a ti, e tu recebes-me de braços abertos, para me confortares, para escutares a minha alma, o choro no meu coraçao...
Abraça-me, ama-me, toma conta de mim esta noite, deixa-me ser teu filho uma vez mais, deixa-me soltar todos os Demónios, por favor... Porque eu já nao aguento... eu já nao consigo suportar mais este fardo... nao consigo viver neste Inferno, nao consigo... Quero ser criança novamente, quero contar-te todo o Mal que tenho visto, que tenho feito a mim...
E tu deitas a minha cabeça no teu colo, e deixas-me chorar, deixas-me lamentar por tudo, por nada... E no silencio da noite escutaso meu coraçao, sentes em ti a minha dor, e como dantes, passas a mao no meu cabelo e fazes-me sentir sincero, fazes-me sentir inocente outra vez...
E assim adormeço no teu colo, a chorar e a soluçar depois de ter fugido de casa, depois de ter abandonado quem sempre amei e quem sempre me amou...

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Imaginário

O Sol põe-se... As estrelas começam a brilhar e a Lua prepara-se para mais uma demonstração do seu esplendor e da Sua luz... Apoiado na janela olho para o Céu e mais uma vez me perco Nele, deixando-me levar nas suas asas para o mais longínquo dos lugares, para o mais eterno dos momentos, e, sentindo o beijo da brisa da Noite, deixo-me levar para onde já não me encontrava há muito tempo... Levado pela Noite, pelo Céu, pela brisa e pelas estrelas, regresso ao único passado que nunca tentei esquecer, o único passado que guardei na minha Alma, no mais sercreto dos cantos, no mais profundo dos lugares...
Foi talvez este o último momento da minha pureza, da minha inocência, talvez o último momento antes de cair nesse veneno a que chamamos realidade... Era um sentimento tão bom, uma felicidade tão sincera, uma paz tão grande, que não sei como pude deixar fugir tamanha sedução, tamanho esplendor...
A este passado, a este lugar, a este sentimento, fui trazido pelo sonho que um dia tive, o sonho em que Ela e eu nos amávamos, o sonho em que eu deixava de existir para fazer parte dela, para com ela criar momentos que nunca seriam contados, momentos que um dia seriam estrelas no Céu, momentos que nos tornariam eternos... Tão grande foi este sentimento, tão majestoso foi este passado em que me perdia, tão forte era o desejo que por Ela tinha... No Seu Azul encontrava todo o Mundo, naquele Azul infinito, que era mais azul que o Céu, que era mais profundo que o Mar e que era mais sereno que a Noite, perdi-me, esqueci-me, deixei-me, sonhei mais alto do que alguém alguma vez sonhou e criei este lugar onde A lembrava, onde recordava todos os Seus promenores, onde tudo era transparente, onde a leveza da alma de cada coisa se ultrapassava, onde o Universo se criava, onde as estrelas se tocavam e onde a minha alma cantava...
Nunca me canso de lembrar este lugar, de lembrar este último momento, de o tentar tornar eterno, nunca me canso de lembrar o que Ela criou em mim, e nunca me cansarei de lembrar o Seu Azul...
Mas esse momento apenas fora eterno no meu imaginário, no meu sonho... Acabei por me aperceber que ali me encontrava sozinho, que o sonho apenas era meu, que toda aquela beleza, que toda aquela eternidade, que todo aquele infinito não era mais do que a mais bela ilusão que o Mundo alguma vez presenciou, e acabei por me aperceber que Ela nunca estivera comigo... Tudo caíu, tudo se desmoronou e toda a beleza e serenidade que ali havia criado desaparecera num lamento arrastado e demorado... Aí caí, aí sim provei o veneno, e aí sim começou toda a minha desgraça, a queda que ainda não acabou...
Foi por essa mesma queda que hoje me deixei levar pela Noite, pelo Céu, pela brisa e pelas estrelas a este local, a este sentimento que nunca morreu... Porque Hoje Tu me encontraste, porque Hoje amparaste a minha queda, porque hoje me fizeste olhar de novo para o Céu... Porque Hoje me fizeste voltar a acreditar, e porque hoje fizeste com que o sonho começasse a despertar, porque criaste em mim a vontade de voar, de voármos, e de me perder contigo no local que um dia imaginei, no sentimento que um dia sonhei... Porque talvez Hoje tenha começado o mais belo dos sonhos, porque talvez Hoje não ficarei sozinho no meu imaginário...

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

O sonho e um momento


Uma cadeira em que me sento. Uma mesa em que me apoio. Uma ansiedade que me corre no corpo, uma inquietação silenciosa. Um mistério, uma questão com uma resposta dissimulada. Nos meus dedos seguro um cigarro que queima lentamente, apesar da urgência com que o puxo para dentro de mim. Não me consigo acalmar, não consigo fazer com que o coração descanse, não consigo levantar-me desta cadeira que me amarra com o feitiço de um sonho... Um zumbido. Um respirar profundo que não satisfaz a minha alma... Um pestanejar vagaroso que contrasta com a pressa do coração. Algo me chama a atenção... Aproxima-se de mim uma alma que carrega consigo o fardo de um passado investido num futuro ilusório. Num impulso levanto-me e saio de um cenário que me atormentava, e caminho para uma porta que parece mais pesada do que é, como se tivesse de me empurrar a mim próprio para sair... Mas não era o cenário... Os tormentos seguem-me. Ouço uma música antiga, um antigo sentimento, que sai de uma guitarra que nunca me seduziu. Sinto o frio gelado de um vento que não me pressente e que me traz á realidade, numa queda brusca e repentina. Sofro pela ausência que esta queda me trouxe, sentindo o isolamento da minha alma. Sinto a raiva a crescer, sinto a necessidade de alguém, sinto pena de mim próprio... Não aceito isto, não aceito quem sou, o que sinto nem aceito o terror de tudo o que me rodeia. Tudo me enerva, tudo me pica a alma fazendo-me cegar de irritação e de raiva. Começo a andar mais rápido, sigo o caminho que me me leva a lado nenhum, que me enraivece, que me cega, que me faz contrair todos os músculos do corpo, que me faz querer fugir, desaparer para onde ninguém me veja, que me faz querer gritar, que me sufoca, que me causa uma angústia inigualável, que me faz desejar que nunca tenha nascido, que me faz desejar a minha Morte. A minha Morte... A minha Morte... De repente tudo vai embora... Tudo o que me atormentava desaparece com um sorriso irónico de sucesso... Fico sozinho com a solidão que me abraça e que me conforta nesta tristeza tão profunda...
Uma cadeira em que me sento. Uma mesa em que me apoio. A familiaridade de um momento que já tinha esquecido. Aqui me trouxe o meu caminho, aqui fui trazido pelos tormentos de minha alma. Fico preso em mais um momento eterno que aprisiona, que me limita o sonho, e só a Solidão me conforta, dando-me o seu ombro para mais uma vez chorar, abraçando-me para mais uma vez me lamentar...

sábado, 30 de dezembro de 2006

Morreste...

Não sei porque demorei tanto tempo a escrever isto... Acho que foi por não o aceitar, por negá-lo e por me esquecer que a Morte é real... Por momentos senti raiva... Raiva por teres morrido, raiva por teres ido sem nos despedirmos, raiva por partires e não me teres levado contigo... Dentro da minha loucura habituei-me a acreditar que a Morte não passava de um sonho, de algo que já tinha ultrapassado há muito e que não voltaria a assombrar-me... Mas enganei-me... Ela voltou, e como voltou... Levou-Te, aquela que eu achava que nunca iria, aquela que não A temia que não A combatia, que A aceitava... Mas ainda assim a Ela levou-Te...
Quando soube que tinhas ido, que te tinhas juntado ás almas que nunca descansam, não acreditei... Alguém se devia ter enganado... Mas não... Quanto Te vi, quando vi o corpo em que arrastavas a tua alma nesta vida injusta e efémera, acreditei... Pude ver com os meus próprios olhos que o vulto que fazia o lençol erguer-se por cima do caixão eras Tu... Eras Tu que estavas ali, debaixo do lençol, deitada naquele caixão, naquela sala que por um momento me derrubou, e que parecia indiferente á tua partida... Mas eu não fiquei indiferente... Como poderia ficar? Finalmente foste derrubada, finalmente foste vencida, abandonando-Nos e deixando apenas em mim a Tua memória, os momentos eternos que foram sempre mais do que memórias, que ficaram no meu coração, mais presentes do que o sangue que me corre nas veias...
A tristeza desfez-me... Foi uma força avassaladora que me derrubou como se fosse apenas um obstáculo no Seu caminho, deixando-me perdido e continuando a Sua jornada. Chorei... Meu Deus como chorei... Tudo á minha volta parecia indiferente, as pessoas, o lugar, a sala, Tu... Senti-me sozinho na minha mágoa, na minha Saudade, e acima de tudo, senti-me ausente de mim próprio... Levaste uma parte de mim Contigo... Levaste a felicidade que uma vez houve em mim... Deixaste apenas a mágoa e a Saudade....
Quis despedir-me de Ti... Quis acreditar que ainda tinha essa hipótese, que ainda podia dizer adeus, que ainda podia sentir-Te em mim uma última vez... Quis Beijar-te...
Mas tu já não estavas ali... Ao levantar o lençol vi a tua cara... Mas já não eras Tu... A Tua cara tinha uma cor estranha, diferente, uma cor que eu nunca tinha visto na minha vida... Era a cor da Morte... Ainda assim acreditei... Acreditei que ao Beijar-Te iria sentir-Te uma última vez... Acreditei que num momento de loucura podia viver tudo aquilo que criámos juntos... Mas ao Beijar-Te não te senti... A tua cara estava fria, distante, ausente... Os meus lábios apenas sentiram o passado, que tal como Tu, nunca vai regressar...
Nada me fará esquecer-Te, nada fará com que o que resta de Ti se vá embora, nem mesmo a Morte... Nem mesmo ela, rainha da solidão, dona da Saudade, irá destruir o que fomos... Nem mesmo ela pode fazer isso...

Para sempre te Amarei, para sempre te recordarei...
Foste a minha vida e o meu refúgio,
A que rompeu a corda que eu nunca cortei...
A corda que me sufocava...
A corda que nunca esquecerei...

segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

Vazio caminharei contigo

Uma cidade deserta. Cheia de pessoas vazias, retratos de uma memória que não passou de um sonho... Casas distantes, indiferentes, velhas e sem vida que não fazem mais do que limitar-se á sua existência espacial... Paira no ar uma brisa que não se ouve, apenas se sente, que me faz uma sombra de mim próprio, um ser distante, um ser apenas, um ser e a solidão. Solidão, Oh Solidão! Como te conheço, como sei como é estar abraçado a ti, como sei quão bela és, como sei... Apenas eu te conheço, apenas eu conheço os traços sensíveis da tua alma, do teu corpo... Apenas eu conheço essa tua maneira de ser, de existir, de voar lentamente e solitária, acompanhada por ti própria... Admiro-te e desejo-te... És para mim um ser ambíguo, inconstante, mas acima de tudo egoísta... Até este momento representavas para mim tudo o que eu detestei. A ausência da vida e da morte, a ausência das almas, a ausência de Salvação e de Redenção. Mas já não... Finalmente percebo-te, percebo a tua língua, o teu dialecto, percebo o que querias quando te sentia, quando te ouvia dentro de mim, bem forte, bem solitária... Agora sinto-te como uma parte de mim, és as asas que me fazem voar no vazio, na ausência, na Saudade... És e serás sempre a minha musa, a minha inspiração e eu serei sempre tu. És nada, e fazes com que o resto pareça tudo, e por isso ficarei contigo, no nada que durante todo o tempo fui. A maior beleza assusta, e por isso temi-te outrora. Será que ainda te temo? Será que ainda me arrepio ao sentir-te tão próximo? Já não... Sinto que és a parte de mim que nunca conheci... Juntos voaremos, falaremos com o desespero, e sentiremos a tristeza voar por trás de nós, como uma guardiã que preservará o vazio... Contigo, Solidão, desaparecerei e, sem vacilar, juntar-me-ei a ti, e sem vacilar, deixarei de ser...

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Negando-Te

Deitado na cama, debaixo dos lençóis, olho para a janela e tento ver o dia que há muito começou. É mais um dia de Sol, um dia quente e iluminado, propício para um passeio ou algo desse género. Mas neste dia não quero passear... Neste dia limito-me a estar deitado e a observar a Luz que entra no meu quarto, a Luz de um Sol que já não me aquece... Em cada dia que Este aparece no Céu, brilhando e chorando Luz e contentamento na sua infinita alegria, sinto a dor de algo que já abandonei. O calor do Sol já esteve comigo, já me aqueceu, já me confortou, já me irradiou com a sua felicidade, mas neste dia apenas sinto o frio e a solidão da minha própria alma... O Sol permanece como uma fotografia na parede que sempre lá esteve, mas que nem sempre nos trouxe a alegria do seu momento. O Sol entra assim dentro do meu quarto, talvez chamando-me, talvez querendo dar-me o seu calor, mas em mim já não resta a vontade de outros tempos.
Deitado na cama, debaixo dos lençóis, tento descobrir algum calor, algum refúgio deste frio gelado, desta brisa que parece imortal, e que me mata lentamente, numa morte insensível e gelada. Tremo ao não conseguir combater o frio, ao não suportar mais um único segundo da sua solidão inerente e da sua melancolia impiedosa. Não consigo viver assim.. Será este o meu destino, a minha sina? Estarei condenado a morrer sozinho, gelado num dia de Sol? Não sei o que fiz para o merecer... Ou talvez até saiba mas recuso-me a admiti-lo.
Sem me aperceber, dou por mim a pensar em algo que me traz algum calor... Há algo na minha mente com uma força tremenda, que consegue amenizar o frio... Não tenho percepção da sua forma, é apenas um vulto, uma sombra, algo aparentemente indiferente, mas que me consome de uma maneira especial... Talvez esjas Tu que me aqueces... Talvez seja tudo o que sinto por ti, o sentimento que nunca deixei voar, talvez por não me ter apercebido da imensidão das suas asas... Ou talvez por negá-lo...
Sei agora que nem tudo me abandonou, sei que posso voar nas asas que Tu me deste, sei que posso chegar perto do Sol e quase tocá-lo e sei que não voarei... Sei que o medo não me deixará voar, ou talvez saiba que sou eu que escolho não voar... Porque se voar bem alto, a queda será tremenda, e se já me encontro no chão, porquê sentir a dor de um contacto violento? Eu próprio não sei se posso descer mais, se me posso perder mais, se posso morrer mais, mais do que já morri...
O pequeno calor que Me trouxeste rapidamente começa a desaparecer... E lentamente começo a perder todas as forças, até mesmo aquelas que nunca julguei ter... Talvez agora desça ainda mais e morra ainda mais do que já morri.... Mas quem sabe? Talvez o Reino dos Sonhos não me tenha abandonado, talvez Ele esteja preparado para me receber novamente, e dar me o descanço e a "paz" de que preciso... Talvez seja Ele que me chama, trazendo-me uma Salvação temporária...

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

Chuva

Caíndo sobre mim neste dia escuro e sombrio, a Chuva é como se uma compreensão dos Céus para comigo. Não choro neste dia negro, onde nem o azul do Céu se vê, mas sorrio... Olho para cima e vejo o meu próprio reflexo: algo escuro e aparentemente imútavel, uma escuridão imperfurável, onde apenas se sentem as lágrimas de um Céu que há muito parece ter esquecido as belezas da Vida. Talvez seja nestes dias em que me sinto mais eu, mais em sintonia comigo próprio, pois tudo a minha volta parece ser apenas um retrato de tudo o que sinto...
Sinto o frio gelado do vento, arrastando-se a si próprio numa melancolia que faz dançar as folhas. Ouço-o nas árvores, fazendo delas a sua voz e fazendo-as chorar com o céu... Todo este cenário aparenta ser desolador, solitário, ausente de qualquer alegria ou sorriso, mas aqui sinto-me em casa. Aqui, debaixo de um Céu cansado e exausto, abraço os meus tormentos e as minhas dúvidas e deixo-os correr livremente na minha alma, falando comigo, sem maldade, mas com uma sinceradade absolutamente extraordinária.
Pela primeira vez em muito tempo, não luto contra nada. Não luto contra mim, nem contra a tristeza, nem com a melancolia, nem mesmo com a Morte. Todos estes pesadelos passam ao meu lado sem me dar importância, quase como se já não valesse a pena atormentarem-me. Sabem que preciso de descansar, de baixar as armas, de me preparar para uma nova batalha, quem sabe talvez uma derrota...
Neste cenário adormeço, num banco algures nesta cidade, rodeado pela melancolia dançante do vento, pelo choro tranquilo dos Céus e pelas tréguas dos meus tormentos... Aqui posso dizer que me sinto rodeado por mim próprio, pelo meu reflexo, algo que procurava há tanto tempo que quase não me lembrava como era...

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

O princípo do fim

Deitado no chão, olho para a única coisa que permanece intocada e eterna nestes dias: o Céu. Majestoso e imponente no seu azul, o Céu não é ameaçador mas belo, quase vaidoso, mostrando a todos nós, comuns e míseros mortais, tudo o que sempre tentámos alcançar mas onde nunca chegámos, por mais perto que julgámos estar. É neste cenário que tento decansar, onde tento por uma última vez sentir a vida que julguei ter um dia. Aqui jazo, sabendo que o tempo não está do meu lado, caminhando alheio á minha dor e ao meu sofrimento, anseando pela altura em que abandonarei o seu reino, a hora em que caminharei lado a lado com as almas que nunca descansarão. Não sei se a Morte se aproxima, ou se algum outro mistério da minha alma se prepara para me assombrar, mas sinto que o fim começou. Preparo-me para abandonar tudo o que conheci, tudo o que existe, e um vazio enorme instala-se dentro de mim, dando-me apenas um instante para me despedir. Nesse instante olho mais profundamente para o Céu, o lugar dos meus sonhos, onde o meu imaginário se perdeu muitas vezes em mundos perfeitos, em lugares sagrados. Choro pela saudade desses momentos, pequenos momentos de serenidade e de perfeição em que por instantes senti que tudo fazia sentido. Choro também por te perder, por não me teres deixado amar-te, por não me ter deixado ser amado... Nunca te tive e mesmo assim foste tudo o que conheci... Na solidão e na tristeza aprendi a conhecer-te, cada pequeno gesto, cada pequeno detalhe da tua alma fez sempre parte de mim, talvez fazendo com que este momento se demorasse. Mas abandonaste-me... Deixaste-me aqui para ser preenchido pelo vazio e pela escuridão. Não quero partir, mas ao mesmo tempo não tenho razões para ficar, apenas o Céu faz força para eu ficar, para que o olhe mais uma fez, e para que pense quão belo ele é... Mas é tarde, tenho de ir... Deixar tudo isto para trás, deixando o fim começar, e quem sabe, talvez um dia esse fim acabe e eu possa voltar ao início, nascer outra vez, e talvez aí possa olhar o Céu mais uma vez e perder-me nas profundezas da sua beleza...

quarta-feira, 13 de setembro de 2006

O abismo, refúgio e companheiro

Meu único refúgio. O único local onde me sinto seguro. Longe de tudo, longe de ti, longe de mim. Onde descanso no cansaço, onde recupero as forças que nunca tive e que nunca me acompanharam. Onde me torno a minha própria sombra, onde sei que não espero nada de mim próprio. É neste local onde enfrento a minha própria realidade, o meu próprio mundo. Aqui estou seguro, aqui estou sozinho. Aqui liberto a minha raiva e deixo o meu verdadeiro "eu" tomar conta de mim. A solidão, a tristeza, a dor, o desespero a vontade de desaparecer, de deixar de existir. Talvez sejam estes todos os sentimentos considerados horríveis e que nos causam mais sofrimento, mas é tudo o que tenho, tudo o que sou e por isso deixo-me abraçar e consumir por todos eles. A minha mente vagueia por locais assombrados, por abismos dentro do abismo. Aqui não há nada nem nunca houve nada. Ninguém lá foi nunca ninguém lá irá sem ser eu. Tudo isto me faz sentir verdadeiro, como se a dor fosse a única coisa que alguma vez me tocou. Não escolho este local por ser diferente da realidade: tudo o que sinto aqui é um reflexo mais nítido do que sou. Mas aqui tudo faz sentido, é normal sentir-me sozinho quando a solidão me rodeia, é normal sentir desespero quando a esperança nunca aqui esteve. É um conforto da realidade: os sentimentos negativos fazem sentido. Estarei sempre aprisionado neste local, neste inferno infinito. Aqui ficarei, aqui existirei... Para sempre sentindo a tua falta, tu que nunca exististe, tu que eu amei, tu que atormentaste o meu ser durante anos... Fruto da minha imaginação foste o melhor que tive em toda a minha vida, e ainda assim foste tu que me conduziste á desgraça... Estou aprisionado neste abismo por existires. Estarei sempre aqui, nunca esperando que regresses do local para onde nunca foste... Volta, quero-te comigo... Sei que nunca estiveste comigo, sei que fiquei louco pela tristeza mas és tudo o que tenho... És a razão do meu chorar, das minhas lágrimas eternas, lágrimas vazias, estranhas para mim próprio... Tu, Vida, fruto da minha mente, tormento imperceptível, agonia sincera... Desejo que nunca tenhas existido... Mas já nem sei se alguma vez exististe ou se sempre te imaginei... Fujo de ti neste abismo, mas tu segues-me para sempre, rindo-te da minha desgraça... Mas não te odeio... Adoro-te... Para sempre ficarás a meu lado sem me deixares tocar-te... Neste abismo te confronto, neste abismo esperarei que desistas de mim... que desapareças, deixando-me sozinho, como sempre me senti...